Nassim Nicholas Taleb afirma no primeiro capítulo do livro A lógica do Cisne Negro que admira o autor Umberto Eco a quem considera pertencer “àquela classe restrita de acadêmicos que são enciclopédicos, perceptivos e nada entediantes”. Ele é dono de uma biblioteca com nada mais nada menos que 30 mil livros, o que para mim é invejável, confesso. E mais, diz que Umberto Eco classifica os visitantes, de sua biblioteca, em duas categorias: uma que se admira e pergunta quantos livros ele já leu e outra que entende que numa biblioteca, o que vale mais são os livros não-lidos em detrimento dos livros lidos. Dos livros não-lidos, nasce a ideia da antibiblioteca. Na verdade, quanto mais você sabe, maior será a pilha de livros não-lidos. Fiquei presa no primeiro capítulo, não li o que vem depois, fiquei presa na antibiblioteca de uma maneira definitiva. Fico aqui pensando em como fazer um currículo a partir da ideia de coisas não sabidas, não aprendidas. Começaria o meu currículo com meus dados pessoais, pois essas informações são sempre muito objetivas. Sem dúvida que sei meu nome, meu número de cpf e rg, sei onde nasci, onde moro, mas as coisas se complicariam com a minha formação acadêmica. O que foi que eu não aprendi? Eu estudei Letras e existe uma infinidade de livros que gostaria de ler e não tive tempo, aproveitando a palavra Tempo, começo com uma falha no meu currículo: não li Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, em minha defesa, minha língua estrangeira era Espanhol e não Francês. Nem li Dostoiévski, li alguma coisa de Tolstói, mas esses eram autores russos. Vergonha! Não li Ulisses de James Joyce, nem A divina comédia de Dante Aliguieri. Nenhum escritor beatnik, Kerouac, Ginsberg ou Burroughs. Mas isso ficando apenas na área de Letras. Quando chegasse na minha experiência profissional, então... quantas coisas eu não aprendi, às vezes por ser cabeça dura, outras por pura ingenuidade mesmo. O que sei é que hoje olho para trás e vejo uma grande lacuna. Há uma infinidade de coisas que não sei e creio que saberei mais amanhã do que hoje, mas nunca saberei tudo. Impossível saber tudo, mesmo sendo um canivete suíço.
Comments